América Latina: muita água, mas mal distribuída

Data do artigo: 22 de março de 2016

Autor del post - José Carrera

Vicepresidente de países de CAF

É mais do que óbvio que partimos de uma posição vantajosa: a região comporta um terço da água fresca do mundo; cada habitante tem 60 metros cúbicos de água por dia - a média global é de apenas 16 metros cúbicos - e 28% das nossas terras têm potencial para a agricultura.

Mas, para aproveitar ao máximo essa situação, devemos primeiro alcançar a "segurança hídrica", ou seja, uma gestão eficiente dos recursos hídricos que impulsione a produtividade e assegure que todos os latino-americanos tenham acesso seguro a serviços de água e saneamento, incluindo a prevenção, adaptação e mitigação de eventos climáticos extremos como secas e inundações.

Em linhas gerais, a região tem um longo caminho a percorrer para alcançar a segurança hídrica. Um bom exemplo é encontrado na agricultura. Até 2050, a população mundial chegará a 9 bilhões, e a produção de alimentos precisará aumentar em 60%. Nesse cenário, a exportação de produtos da região tornará possível compensar o déficit de água e de terra de muitos países importadores, o que tornará a América Latina um ator-chave para a segurança alimentar global.

Para desenvolver esse potencial, será essencial fortalecer as instituições que gerenciam os recursos hídricos e, ao mesmo tempo, incorporar maciçamente novas tecnologias, como a irrigação de precisão ou o uso de drones para monitorar a umidade das culturas. Além disso, a América Latina deve fazer grandes investimentos para melhorar suas infraestruturas de irrigação,necessário para aumentar a produtividade da água.

Com tudo isso, não seria uma ousadia afirmar que a América Latina pode se tornar uma das principais potências agrícolas se os recursos hídricos forem gerenciados com eficiência.

Por outro lado, o rápido processo de urbanização que a região tem experimentado desde a década de 1970 impõe desafios significativos para o avanço da segurança hídrica. Entre eles, fornecer água potável a todos os cidadãos (um em cada quatro latino-americanos não tem acesso a água ou serviços de saneamento), especialmente aqueles que vivem em pequenas cidades, áreas rurais e áreas marginais de grandes cidades. A brecha nos serviços de água e saneamento poderia fechar se a região investisse anualmente 0,3% do PIB até 2030, de acordo com um relatório recente.

Esse problema poderia ser agravado pela mudança climática, que não afetará apenas as fontes de abastecimento de água, mas também provocará alterações no regime de chuvas e gerará escassez em algumas áreas da região, fato que pode reduzir o rendimento agrícola.

A água na região também pode contribuir para a implementação de energias renováveis, especialmente através da hidroeletricidade. Enquanto no resto do mundo as energias renováveis geram 20% de eletricidade e 13% do consumo energético geral, na América Latina, esses valores quase triplicam, chegando a 66% da geração e 30% do consumo total, segundo a Agência Internacional de Eletricidade. Além disso, só desenvolvemos 26% do potencial hidrelétrico economicamente explorável.

Embora enfrentemos grandes desafios, os objetivos são claros. E, para que sejam implementados, será crucial que os governos, o setor privado, a sociedade civil e os organismos multilaterais trabalhem juntos e em coordenação e se comprometam a mobilizar os recursos financeiros necessários, nos níveis regional e internacional.

Nesse sentido,  o CAF - banco de desenvolvimento da América Latina - tornou-se, em 2015, um dos governadores do Conselho Mundial da Água, um organismo que constrói compromisso político e fomenta ações para resolver os desafios da boa gestão hídrica em todos os níveis. Essa posição assegura que as experiências e os desafios do setor hídrico da região estejam representados no cenário internacional e, paralelamente, traz para a região os casos internacionais de sucesso.

Estamos diante de uma oportunidade de ouro: se gerenciarmos os recursos hídricos de forma eficiente, alcançaremos uma posição geopolítica invejável e, o que é mais importante, garantiremos que todos os latino-americanos tenham acesso a serviços hídricos de qualidade, contribuindo para o bem-estar da população e a redução da pobreza.

E, se isso não bastasse, economicamente, os investimentos no setor da água proporcionariam o impulso que a região precisa para entrar na liga das economias mais avançadas, e seria um estímulo para superar o clima de desaceleração vivido hoje na América Latina.

 

Este artigo foi publicado simultaneamente em El País

José Carrera

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José Carrera

Vicepresidente de países de CAF

José Carrera es el Vicepresidente de países de CAF. Se unió a CAF en 1999 como director adjunto de la Oficina de Planificación Corporativa, y más adelante fue el director representante del organismo en Bolivia y Vicepresidente de Desarrollo Social. También ha ocupado cargos en el sector público, incluyendo el viceministro de Finanzas de Ecuador, donde al mismo tiempo se desempeñó como gobernador suplente del Banco Interamericano de Desarrollo y el Banco Mundial; subsecretario de Presupuesto y Hacienda en el Ministerio de Finanzas de Ecuador; y director de Política Fiscal y financiera del Banco Central de Ecuador. Carrera también ha sido miembro del Consejo de Administración del Instituto Ecuatoriano de Electricidad, PETROECUADOR, el Consejo Nacional de Valores y Mercado de Capitales, y el Consejo de Seguridad Nacional de Ecuador. Carrera se graduó de la Universidad Católica del Ecuador (PUCE) con un título en economía, y también tiene una maestría en economía de la Universidad de Notre Dame.

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