Como proteger a água da mudança climática

Este artigo também foi publicado no The Huffington Post

A força dos efeitos devastadores da mudança climática é cada vez maior em todo o planeta. Recentemente, testemunhamos o impacto econômico, social e humano (chamado “gota fría” em espanhol) das fortes inundações e transbordamentos de rios que afetaram grande parte da Espanha e da Europa, deixando mortes e muita destruição em infraestruturas, colheitas, empresas e lares.

Infelizmente, os acontecimentos das últimas semanas não constituem um fenômeno isolado, mas sim um sinal das devastações da intensificação de eventos extremos causados pela mudança climática. A temperatura global subiu nos últimos anos, com o aumento alarmante de inundações e secas, afetando a segurança da água e dos alimentos e a qualidade de vida da população em muitos lugares do mundo.

Os grandes desafios do futuro, como o crescimento populacional, o rápido ritmo de urbanização e a competição pelos recursos naturais, tornam ainda mais necessário encontrar soluções para o problema da escassez da água e sua distribuição desigual. Não há dúvida de que esses desafios se intensificarão nos próximos anos.

A América Latina e o Caribe, apesar de terem cerca de 30% dos recursos hídricos do planeta, vastas terras adequadas ao desenvolvimento agrícola e alto potencial de geração de energia hidrelétrica, ainda enfrentam desafios hídricos importantes. 21 milhões de pessoas não têm acesso básico à água potável, mais de 116 milhões têm acesso insuficiente e precário a esse serviço e quase 83 milhões não têm acesso básico ao saneamento. Além disso, apenas 30% das águas residuais geradas na região são tratadas. Se não forem tomadas as medidas necessárias, esses problemas se agravarão com o tempo. Um estudo recente do Banco Mundial indica que a região poderia ter até 17 milhões de migrantes por volta de 2050 devido a problemas como a escassez de água, baixa produtividade agrícola e aumento do nível do mar.

Essa grave realidade mostra não só a necessidade de aumentar os níveis de investimento e financiamento em infraestruturas resilientes e sustentáveis, mas também de alavancar a inovação e a utilização de novas tecnologias para melhorar o planejamento, a viabilidade e a manutenção de projetos, fortalecer os mecanismos de governança e gestão de serviços, investir no desenvolvimento de planos eficazes de assistência diante de desastres ambientais e trabalhar na conscientização da população sobre o uso responsável da água.

As realidades dos diferentes países da América Latina e do Caribe são muito diferentes. No entanto, o problema da água é comum para todos. É por isso que, o CAF - banco de desenvolvimento da América Latina - está comprometido com a busca e o apoio de soluções inovadoras para este problema, uma vez que a gestão adequada da água impacta diretamente o desenvolvimento da região, influindo no cumprimento da maioria dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2030, como os associados ao avanço econômico e social, à saúde, à produção de alimentos, ao acesso à moradia decente, à segurança energética, entre outros.

Tendo em conta o nosso compromisso de servir como ponte para canalizar as muitas complementaridades que existem entre a Europa, e especificamente a Espanha, e a América Latina, celebraremos no dia 2 de outubro na Casa da América, em Madri, a quinta edição dos "Diálogos da Água ". Esse evento reunirá personalidades políticas importantes e especialistas em água em nível mundial, além de representantes das instituições reitoras dos recursos hídricos da América Latina e da Espanha, organismos internacionais, centros de pensamento e setor privado. Mais uma oportunidade para trocar experiências e boas práticas sobre os efeitos da mudança climática na gestão da água.