Por que a cidade influencia a forma como me sinto?

10 de abril de 2023

Quando se fala em saúde, a primeira coisa que costuma vir à mente é a ausência de doenças. Isto é, pensamos que somos saudáveis porque não sofremos de nenhuma doença ou enfermidade.

No entanto, ser saudável inclui muitos outros aspectos que vão além de não ter uma doença. Aspectos como os nossos hábitos, o tipo de relação que estabelecemos com o ambiente em que vivemos, a forma como aprendemos, trabalhamos ou relaxamos e nos divertimos, são fundamentais, pois a nossa saúde muitas vezes é condicionada por fatores exógenos que a afetam direta e indiretamente. Nesse sentido, a qualidade do ambiente ou do meio ambiente se torna determinante do quanto a vida que vivemos pode ser saudável.

Uma vez que as cidades são os espaços de vida predominantemente escolhidos pelos latino-americanos (mais de 80% vivem em centros urbanos), a maneira como elas se desenvolvem (por exemplo, os serviços e a qualidade do ar que oferecem, a facilidade para fornecer alimentos saudáveis) pode afetar positiva ou negativamente a saúde das pessoas.   

Embora muitos dos problemas históricos das cidades da América Latina e do Caribe tenham adquirido maior visibilidade durante a pandemia de COVID-19, também padecemos de outras pandemias silenciosas, como a de excesso de peso, que afeta aproximadamente 57% da população adulta da América Latina, o equivalente a cerca de 300 milhões de pessoas.

Se acrescentarmos ao exposto acima uma diferenciação por gênero, há uma prevalência da obesidade nas mulheres, explicada, por exemplo, por uma relação entre o demora dos sistemas de transporte que reduz o tempo de preparo e consumo de alimentos saudáveis, os quais acabam sendo substituídos por bebidas açucaradas ou por alimentos ultraprocessados.

Felizmente, é possível influenciar positivamente a saúde se modificarmos o ambiente em que vivemos. Há muitas mudanças que podem ser feitas, desde o planejamento, o projeto e a gestão das cidades até a intervenção no ambiente em que vivemos. Por exemplo, o estímulo à atividade física por meio de espaços públicos melhores para essa prática, de mais e melhor acesso a alimentos saudáveis, da implantação de ciclovias em toda a cidade para promover a mobilidade ativa.

Outras iniciativas consistem em criar ou melhorar espaços verdes para estimular não só a atividade física, mas também a recreação e o lazer, distribuir adequadamente os centros de atendimento primário à saúde para facilitar o acesso de todas as pessoas a eles, desencorajar o uso de transporte individual para reduzir os níveis de poluição ambiental e os níveis de ruído, entre muitas outras políticas.

Analisar todas as políticas urbanas por essas “lentes da saúde” mostra o impacto que a cidade tem na formação da saúde das pessoas. Sem saúde não podemos realizar as atividades que queremos, carregamos a história em nossos corpos e por isso, o planejamento, o projeto e a gestão de uma cidade saudável se refletem em decisões que promovam um estilo de vida mais saudável tanto individualmente como coletivamente.

Diante dessa necessidade de promover uma vida mais saudável, no CAF -banco de desenvolvimento da América Latina- elaboramos um Guia para Cidades mais Saudáveis que analisa estruturas conceituais, recomendações e exemplos práticos para uma vida mais saudável nas cidades com base no trabalho conjunto entre a agenda de planejamento urbano e de saúde no nível municipal, de acordo com as melhores práticas disponíveis internacionalmente.

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Autores:
Bárbara Zamora
Bárbara Zamora

Especialista en Desarrollo Urbano