Resiliência climática: investindo em um futuro sustentável

18 de outubro de 2023

Em um contexto mundial marcado pelo aquecimento global, a frequência de eventos climáticos extremos aumentou consideravelmente, criando um complexo cenário de ameaças, muitas vezes, relacionadas.

A América Latina e o Caribe emergem como uma área de alto risco climático, caracterizada por sua vulnerabilidade inerente, infraestrutura frequentemente inadequada, populações em áreas propensas a desastres e espaço fiscal limitado: ameaças constantes em relação à probabilidade de eventos climáticos extremos.

Na verdade, de acordo com os dados do EM-DAT, pelo menos 2.225 desastres desse tipo foram registrados na região nos últimos 43 anos, uma média de 52 eventos por ano. Inundações e tempestades são os mais frequentes (49,5 e 30,6% de todos os eventos, respectivamente), seguidos por deslizamentos de terra (7,0%) e secas (6,9%). Além disso, o número de eventos extremos na região aumentou 90% entre 2000 e 2021 em comparação com as duas décadas anteriores.

Os desastres relacionados ao clima não só tiveram impactos econômicos significativos, como também afetaram uma grande porcentagem da população. Estima-se que, em média, os danos e as perdas anuais na região tenham sido de pelo menos 0,2% do PIB. Além disso, em média, cerca de 1% da população da região é afetada por desastres relacionados ao clima a cada ano, e o número agregado de mortes e pessoas desaparecidas é estimado em cerca de 100.000 pessoas.

Por exemplo, desastres associados aos três últimos grandes eventos El Niño em 1982-1983, 1997-1998 e 2014-2016 acumularam danos no Chile, Colômbia, Peru e Equador estimados em USD 6,473 bilhões e mais de 3.300 mortes. A atual seca no sul do continente pode custar entre 2% e 5% do PIB na Argentina, no Brasil, no Paraguai e no Uruguai.

Motivados por esses números, em estudo recente do CAF -banco de desenvolvimento da América Latina e Caribe, avaliamos os efeitos macroeconômicos do investimento em infraestrutura resiliente (ou adaptativa), bem como a criação de fundos de contingência, com base em um modelo quantitativo de equilíbrio geral com choques climáticos. Os resultados para quatro das economias com maior risco climático na região (Honduras, República Dominicana, Barbados e Paraguai) sugerem que esse investimento reduz significativamente o impacto dos eventos climáticos sobre o PIB e melhora a trajetória da dívida pública no médio e longo prazo.

O efeito sobre a dinâmica da dívida é aprimorado se, além do investimento em infraestrutura resiliente, for estabelecido um fundo de contingência para lidar com emergências associadas a desastres. Entretanto, tanto o investimento em infraestrutura resiliente quanto o estabelecimento de um fundo de emergência deterioram a dinâmica da dívida no curto prazo.

Na ausência de tais investimentos, o estudo conclui que a ocorrência de um desastre poderia desencadear um ciclo vicioso caracterizado por uma trajetória de aumento da dívida que elevaria o custo dos empréstimos. Isso, por sua vez, limitaria o escopo do investimento em infraestrutura resiliente, exacerbando os impactos negativos sobre o PIB e corroendo progressivamente a resiliência.

O estudo também destaca o importante papel do financiamento concessional. Esse tipo de financiamento não apenas facilitaria a realização dos investimentos necessários em infraestrutura resiliente, mas também atenuaria os problemas de acesso ao crédito, especialmente para economias altamente endividadas com pouco espaço fiscal, ou de economia política. Estima-se que esses investimentos exijam recursos entre USD 9 bilhões e USD 31 bilhões anuais em toda a região, o equivalente a 0,15% a 0,5% do PIB por ano.

Os resultados, portanto, apontam para a necessidade de maior preparação e resposta aos desastres climáticos, bem como de adaptação contínua para reduzir a vulnerabilidade, em antecipação a uma frequência maior desses eventos no futuro. Outras intervenções alternativas, como o planejamento espacial e soluções baseadas na natureza, também devem ser consideradas para reduzir a vulnerabilidade dos países aos riscos climáticos. 

Os bancos multilaterais, em sua função de mediadores e facilitadores, podem desempenhar um papel fundamental nesse contexto. Por um lado, podem mobilizar capital, fornecer financiamento concessional e consultoria técnica, para que os países possam fazer os investimentos em infraestrutura resiliente necessários para o gerenciamento de riscos climáticos e a adaptação. Por outro lado, os bancos multilaterais também podem promover a colaboração regional para compartilhar experiências e boas práticas.

A adaptação às mudanças climáticas não é apenas uma necessidade, mas um investimento estratégico no desenvolvimento sustentável da América Latina.

Autores:
Adriana Arreaza
Adriana Arreaza

Directora de Estudios Macroeconómicos de CAF

Richard Condor
Richard Condor

Economista Principal