Cinco lições jornalísticas que o caso do jornal eldiario.es nos deixa

“Jornalismo apesar de tudo”. Essa frase define o espírito de luta do eldiario.es, uma das propostas de jornalismo digital mais bem-sucedidas dos últimos anos na Espanha.

O portal vai encerrar 2018 com uma receita superior a 5,7 milhões de euros. Em seu auge, chegou a ter mais de dez milhões de usuários únicos. Começou em 2013 com uma equipe de 13 funcionários. Cinco anos depois já tem 83.

Como explicar seu crescimento explosivo?  Gumersindo Lafuente, subdiretor do jornal eldiario.es e professor da Fundação Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo Ibero-americano, contou quais foram as chaves do sucesso do portal de notícias.

Lafuente participou do Seminário de Diretores e Editores Econômicos 2018: o papel da produtividade na América Latina. O evento foi realizado em Bogotá (Colômbia) nos dias 6 e 7 de novembro e reuniu cerca de 20 jornalistas econômicos da América Latina.

Buscar a independência editorial

O eldiario.es surgiu como uma proposta midiática independente. As histórias de alto impacto social e os furos são os protagonistas. O objetivo é não permitir que os poderes econômicos e políticos externos interfiram na linha editorial. É uma proposta criada por jornalistas apaixonados pelo seu trabalho. A missão é ser um contrapeso dos poderes e ajudar a sociedade.

Criar uma comunidade fiel

O eldiario.es promoveu a criação de uma comunidade de leitores fiéis às suas histórias. Depois, elaborou um programa que permite que aqueles que acreditam no seu modelo possam contribuir com dinheiro em troca de uma série de vantagens.

Os que pertencem a esse programa são chamados “parceiros”. “São pessoas que consideram que o conteúdo do jornal eldiario.es os beneficia”, afirma Lafuente. Os parceiros pagam uma anuidade mínima de 60 euros e recebem vários benefícios: podem navegar sem anúncios e recebem convites para participar de debates, eventos ou outro tipo de encontros patrocinados pelo jornal. Além disso, seus comentários são destacados e têm acesso às notícias do dia seguinte antecipadamente.

O eldiario.es já tem 34.000 parceiros que representam uma receita superior a um milhão de euros anuais para o portal. “O viço, a independência e o compromisso são as chaves para manter o programa de parceiros", garante Lafuente.

Oferecer conteúdo útil e inovador

Em outros tempos, quando liderava a redação da extinta publicação digital soitu.es, Lafuente acreditava que era mais importante apostar na infraestrutura tecnológica. Havia mais desenvolvedores que jornalistas na sua equipe. Causar impacto com tecnologia era a sua prioridade.

“Mas descobri que o impacto jornalístico é o mais importante”, admitiu o professor. “Devemos contar histórias diferentes, úteis e inovadoras. Precisamos ajudar a sociedade; temos que construir um relato com identidade própria”.

Analisar o público para personalizar o conteúdo

No eldiario.es, deu-se início ao trabalho de construir peças informativas personalizadas com a ajuda dos dados. A compilação e a análise de dados massivos permitirão que o jornal descubra quais histórias poderiam ser úteis e surpreendentes para os leitores.

Os dados permitem determinar, com mais precisão, quais são os interesses dos leitores e como se comportam quando entram no site. Lafuente espera que um modelo informativo baseado em dados lhes permita ter ainda mais impacto no futuro.

Fazer jornalismo decente

Para Lafuente, nenhum meio será bem-sucedido se não fizer “jornalismo decente”. "Sempre que cometemos um erro, temos que corrigi-lo, por exemplo", diz o professor.

E não só isso, Lafuente propõe criar modelos de negócio simples, sem muitos conflitos de interesse. "É difícil pedir dinheiro às pessoas quando seus acionistas são bancos, instituições do governo ou fundos de investimento. Há poucos meios com os atributos necessários para ter um modelo de parceiros como o nosso”, conclui Lafuente.

Sobre o Seminário de Diretores e Editores Econômicos 2018; o papel da produtividade na América Latina

Foi organizado pela Fundação Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo (FNPI na sigla em espanhol) e pelo CAF - banco de desenvolvimento da América Latina, e realizado em Bogotá (Colômbia) nos dias 6 e 7 de novembro de 2018. A atividade reuniu cerca de 20 jornalistas econômicos da América Latina e incluiu as palestras de Michael Reid e Gumersindo Lafuente, professores da FNPI.