Quebrando as cadeias das desigualdades herdadas

14 de dezembro de 2022

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A América Latina e o Caribe é uma das regiões mais desiguais do mundo. Nós sabemos. Que essa desigualdade tem raízes mais profundas e características diferentes do que em outras regiões e que, ao identificá-las, podemos trabalhar para resolvê-las melhor, é uma das contribuições da publicação Desigualdades herdadas: o papel das habilidades, do emprego e da riqueza nas oportunidades das novas gerações, do CAF -banco de desenvolvimento da América Latina.

A desigualdade na América Latina e no Caribe não se restringe apenas à renda, mas se manifesta sistematicamente em outras dimensões do bem-estar, como a riqueza, a educação, a posse da terra e as oportunidades de emprego. A falta de oportunidades para formar capital humano, conseguir bons empregos nos mercados de trabalho e acumular ativos são fatores-chave por trás da reprodução intergeracional das desigualdades.

A falta de mobilidade intergeracional tem consequências importantes não só por razões de equidade, mas também porque pode afetar o crescimento econômico e a estabilidade político-institucional de um país. Essas três dimensões-chave para o desenvolvimento inclusivo e sustentável tornam a mobilidade social uma pré-condição importante para alcançar um progresso maior e mais estável no longo prazo nos países da América Latina e do Caribe.

Para quebrar as cadeias das desigualdades herdadas é preciso prestar especial atenção ao lar, com relação a questões como gravidezes precoces e práticas infantis, apoiando as famílias da região para melhorar não apenas o ambiente infantil dentro de suas casas, como também para que os pais implementem práticas simples mais cedo do que tarde, mas eficazes, para a nutrição adequada e a estimulação precoce das crianças.

Por outro lado, os investimentos durante a adolescência incluem o compromisso de realizar um trabalho conjunto com a família, a escola, o ambiente físico e social e o mundo do trabalho. Todos eles devem proporcionar insumos de qualidade para a aprendizagem, a saúde física e mental e orientar positivamente os adolescentes com relação às aspirações educacionais e de trabalho que lhes permitam formar um novo capital humano a ser oferecido depois como seu melhor uso alternativo nos mercados de trabalho.

A formação técnico-profissional e a universitária devem adotar esse nível básico de competências e complementá-lo com competências mais sofisticadas, que sejam valorizadas no mercado de trabalho e que facilitem a integração produtiva e social das pessoas em idade adulta. Nessa tarefa, o ensino técnico-profissional e o superior enfrentam na região o grande desafio de ampliar sua cobertura, sem descuidar da qualidade e da relevância dos serviços educacionais oferecidos.

Os sistemas educacionais da região, especialmente nos níveis infantil, fundamental, médio e superior, ainda estão longe de eliminar as disparidades socioeconômicas e de serem aliados infalíveis da mobilidade intergeracional. Os baixos níveis de qualidade dos serviços educacionais proporcionados às crianças e jovens das famílias mais desfavorecidas, os altos níveis de segregação escolar observados na região, além do acesso limitado e dos problemas de qualidade do ensino superior são três dos principais motivos.

Paralelamente aos esforços para melhorar o capital humano encontram-se as políticas ativas de emprego, que incluem a formação, os estágios e a ajuda para procurar emprego, que estão alinhadas com as três principais diretrizes que devem nortear as políticas de emprego que visem promover maior mobilidade. As evidências com relação ao êxito dessas políticas, apresentadas no RED2022 sugerem que estas deveriam receber mais financiamento e serem voltadas para as populações desfavorecidas, como os afrodescendentes, os indígenas e os moradores de bairros periféricos.

Por fim, um maior desenvolvimento da proteção social universal contra o desemprego também pode permitir que os trabalhadores mais vulneráveis e suas famílias se protejam contra choques adversos e gastem mais tempo com a formação e a busca de empregos.

Equalizar as oportunidades de emprego e melhorar a qualidade de vida da população para reduzir a desigualdade, fazer com que as crianças tenham um futuro melhor do que o de seus pais, dar um salto em produtividade e formalidade, é uma prioridade para a qual não há uma resposta única, mas exige o compromisso de todos no sentido de alcançar esse objetivo de melhorar as oportunidades de progresso para todos os latino-americanos e caribenhos.

Autores:
 Ernesto Schargrodsky
Ernesto Schargrodsky

Director de Investigaciones Socioeconómicas, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-