Como aproveitar a crise nas cadeias de suprimentos do mundo?

14 de dezembro de 2021

Visões de Desenvolvimento é uma seção promovida pelo CAF -banco de desenvolvimento da América Latina- que analisa as principais questões relacionadas ao desenvolvimento da região. Seus artigos são publicados simultaneamente nos principais meios de comunicação da América Latina.

Como aproveitar a crise nas cadeias de suprimentos do mundo?

As compras de Natal e Ano Novo ficaram mais caras para alguns produtos importados ou que necessitam de insumos para que sua produção seja finalizada localmente. De carros, eletrodomésticos e equipamentos de tecnologia, a brinquedos, consoles de videogame, calçados e itens de cozinha... Esses são alguns exemplos de itens que foram afetados pelo aumento dos custos logísticos devido à crise nas cadeias de suprimentos globais.

Isso se deveu aos diversos distúrbios operacionais gerados pela pandemia da COVID-19, que, inicialmente, levaram ao fechamento dos principais portos e indústrias; e, em seguida, uma retomada de movimento que excedeu a capacidade de produção, devido aos protocolos biossanitários, a disponibilidade de contêineres e caminhões, congestionamento portuário, apetite dos consumidores por novos produtos, entre outros fatores encadeados, os quais, hoje, se refletem em escassez, maiores custos e preços, inflação e uma ameaça à recuperação das economias.

“Devemos fazer todo o possível para reduzir esses efeitos no comércio, especialmente no caso das pequenas empresas, em todo o mundo”, aponta a vice-diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Anabel González. “Isso é de extrema importância para que todos os países, particularmente os mais pobres, consigam impulsionar a recuperação econômica pós-pandemia… É igualmente importante aprender lições com a COVID-19 para evitar disrupções semelhantes no transporte marítimo no futuro. Portanto, é necessário estudar como promover a resiliência das cadeias de suprimentos e quais políticas são necessárias para esse fim”, acrescenta.

A situação mantém as autoridades em alerta, devido aos impactos gerados nas exportações e importações, ao ponto de o diretor-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, ter exortado recentemente governos e empresas “a perseverarem em seus esforços de identificar os obstáculos na cadeia de suprimentos e implementar medidas destinadas a mitigar seus efeitos no comércio”, com vistas a “melhorar a resiliência das cadeias de suprimentos globais”.

A América Latina e o Caribe não estão isentos desse problema. Por isso, também podem aproveitá-lo para aumentar sua participação nas cadeias globais de valor. “Essa crise apresenta a oportunidade de transformar as cadeias de suprimentos regionais, por meio de ações estratégicas em quatro grandes áreas: Resiliência, via planos e programas de adaptação e gestão de riscos; regionalização, via decisões de regionalização e realocação de operações; digitalização, via investimento em sistemas avançados de análise de dados que proporcionem total visibilidade da cadeia; gestão de talentos, por meio de retenção e recrutamento de recursos humanos para os desafios da indústria 4.0”, explica Rafael Farromeque, especialista sênior do CAF -banco de desenvolvimento da América Latina.   

Para transformar essa crise em oportunidade, é necessária uma estratégia abrangente e multissetorial. Os corredores logísticos de integração surgem como uma ferramenta útil para identificar necessidades e propor soluções para os diferentes setores produtivos com a participação de diversos atores, incluindo o setor público, fornecedores de insumos e matérias-primas localizados na área de influência do corredor e atores relacionados aos processos de produção e distribuição que compõem as principais cadeias de valor.

“O CAF promove um tratamento sistêmico dos corredores logísticos de integração, que envolve intervenções prioritárias em infraestruturas de apoio, serviços associados, governança e outros elementos relacionados à sua integração física, funcional e digital. Essa estratégia foi aplicada com sucesso no norte da Argentina (2018), no Equador (2019) e no México (2021), resultando na identificação de projetos de investimento para integração regional de mais de USD 6.800 milhões”, acrescentou Farromeque.

O dano está feito. O impacto nas cadeias de suprimentos globais, bem como a pandemia, são uma realidade que não pode ser alterada, mas a boa notícia é que ficaram evidentes os riscos de ter fornecedores tão distantes. E essa é a oportunidade que a região pode aproveitar com a especialização territorial para integrar-se às redes de produção e distribuição.