Transição energética: como e quando, essa é a questão

03 de agosto de 2022

Os combustíveis fósseis são como o açúcar: sabemos que seu consumo excessivo é prejudicial, mas é muito difícil viver sem sua doçura. Pouco a pouco, alcançou-se uma maior consciência de seus vários efeitos sobre o corpo e buscou-se encontrar novas fontes para substituí-lo sem que perdesse sua essência. O mesmo acontece com a transição energética para a sustentabilidade do planeta, mas com o agravante de que na América Latina e no Caribe os combustíveis fósseis também contribuem para gerar uma grande quantidade de receita, via exportações, para financiar programas sociais.

O desafio é alcançar uma economia baseada em fontes de energia com baixas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE). Há um consenso geral sobre isso e a região está adiantada. A América Latina conta com a matriz de geração de energia elétrica mais verde do mundo; tem áreas que se encontram entre as melhores do planeta para a produção de energia solar e eólica; contribui com apenas cerca de 8% de todas as emissões de GEE do mundo e melhorou a cobertura do serviço de fornecimento de energia elétrica para a população (97%).

“A região apresenta avanços importantes, mas precisa encontrar um bom equilíbrio entre financiar a transição energética e as outras necessidades de desenvolvimento econômico e mobilidade social, como educação, saúde e pobreza, que são atualmente financiadas em grande parte por combustíveis fósseis, para alcançar um progresso abrangente que seja sustentável tanto do ponto de vista energético quanto social”, afirmou Alejandro Werner, diretor do Instituto das Américas da Universidade de Georgetown.

A pandemia exacerbou este desafio ao deixar os países com economias mais endividadas e, portanto, menos capazes de financiar os investimentos necessários para realizar a transição energética, enquanto a guerra entre a Rússia e a Ucrânia aumentou os preços dos combustíveis fósseis que constituem recursos adicionais para a região. Mas não devemos negligenciar o projeto de um modelo de desenvolvimento de baixo carbono.

"Este é o momento das discussões difíceis, pois as oportunidades existem, mas também existem muitos custos que devemos assumir juntos e é aí que as políticas públicas são fundamentais para se obter consenso e alcançar o objetivo de um planeta sustentável e com mais oportunidades de desenvolvimento e emprego”, explicou Tomás González, diretor do Centro Regional de Estudos Energéticos e ex-ministro de Minas e Energia da Colômbia.

Obter um fornecimento de energia acessível, confiável, de baixa emissão e resiliente às mudanças climáticas, requer inovação tecnológica, marcos regulatórios atualizados e esquemas que promovam a participação conjunta do setor público e do privado. É um longo caminho a percorrer, mas pode ser alcançado. O Uruguai tem tido sucesso ao percorrer esse caminho, com sua política de parques eólicos.

”Atualmente temos 48 parques eólicos que, juntos, nos permitem atender a uma demanda de mais de mil megawatts. O fator fundamental para o sucesso dessa iniciativa foi a integração público-privada e o compromisso assumido por todas as partes para realizar essa transição para a energia eólica”, disse Silvana Romero, Presidente da Unidade Reguladora de Serviços de Energia e Água do Uruguai.

De acordo com cálculos de especialistas, os desafios remanescentes, principalmente a intermitência e os altos custos de armazenamento, sugerem que a mudança da matriz energética e a transição para sistemas de transporte eficientes e limpos na região levarão cerca de 20 anos. O CAF -banco de desenvolvimento da América Latina- como banco verde da região, com sua trajetória, experiência e atuação no setor de energia, está trabalhando para se tornar o principal parceiro estratégico da transição energética da região.

O CAF deve e está desempenhando um papel essencial na transição energética com cooperação técnica para realizar uma revisão, com cada um dos países, dos aspectos técnicos, regulatórios e de políticas públicas a fim de gerar essa transição. Além disso, com seu braço financeiro, pode ser um ator-chave no financiamento de obras de infraestrutura no que diz respeito à adaptação e nas obras de infraestrutura necessárias para realizar a transição para energias renováveis”, acrescentou Werner.

O copo de água está pela metade. Fizemos avanços visíveis e temos desafios que exigem uma ação coordenada na região para impulsionar a produtividade, a competitividade e o desenvolvimento inclusivo que as economias da região exigem para melhorar a qualidade de vida da população e dar o salto em direção ao desenvolvimento. O objetivo é claro, agora o desafio é construir os acordos para o como e quando.